Capacidade analítica e habilidade para debates. Um pré-requisito que não se obtém de uma hora para outra é um dos mais exigidos pela Harvard Business School (HBS), concordam profissionais que estudaram na mais famosa escola de negócios do mundo. É preciso mais. Para aceitar um candidato no seu MBA, Harvard exige um currículo acadêmico brilhante, experiência como líder comprovada e engajamento na comunidade. Mas não adianta preencher essas condições sem ter o dom da argumentação.
— Os americanos, desde a elementary school (a nossa escola primária) aprendem técnicas de debate. No Brasil, com exceção de algumas escolas construtivistas, o processo é: o professor fala e o aluno escuta. Há pouco debate e pouca pesquisa. Então, quando os americanos chegam à pós-graduação, são mestres na arte de debater, diferentemente dos brasileiros — afirma Agrícola Bethlem, professor emérito do Coppead/UFRJ, que passou sete meses em Harvard como professor visitante, estudando o método de ensino.
Só 10% dos candidatos entram
Apenas oito alunos compunham a primeira turma de MBA do mundo, formada em 1910 pela escola de negócios da Universidade de Harvard, no estado de Massachussets, Estados Unidos. De lá para cá, o grupo cresceu. Hoje, nove mil pessoas se candidatam todos os anos, e 10% delas são aprovadas — são 900 novos alunos por ano.
Grande parte desse sucesso se deve ao seu criterioso sistema de seleção. Harvard quer os melhores alunos — não importa se sua situação financeira lhes permite pagar os mais de US$ 60 mil necessários para estudar ali. A universidade dará um jeito de bancar o estudante, caso ele não tenha dinheiro.
— Os professores nem precisam se esforçar para ensinar — brinca Bethlem. — Quem não é bom o suficiente nem se candidata para Harvard. Os alunos competem entre si o tempo todo, mas com muita disciplina, sem que um atropele o outro. No Brasil, não há tanta competição nas escolas. Quando um aluno começa a se destacar muito, ele se controla para que isso não ocorra.
Mestre em Administração Pública pela Universidade de Harvard, Jonathan Speier, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape/FGV), conta que, em seu curso, cada professor exigia mais de 500 páginas de leitura por semana.
— Assim, eram mais de 2.500 páginas de leitura por semana. Mas não basta ler, é preciso ter uma análise crítica do tema com base em suas próprias experiências e saber expor suas ideias.
A internacionalização também é uma das marcas de Harvard, que tem cerca de 20% de seu corpo de alunos formado por estrangeiros. E, na opinião dos ex-estudantes, a diversidade cultural é a mais eficaz ferramenta de aprendizagem. A advogada Ana Paula Martinez, que cursou o mestrado na Harvard Law School — onde se formou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama — conta que, em sua turma, havia 150 alunos de 80 nacionalidades.
— E todos com histórias muito ricas e totalmente diferentes da minha. Essa experiência me fez crescer muito como pessoa. E, é claro, me abriu muitas portas — afirma Ana Paula, hoje sócia do escritório Levy & Salomão Advogados.
No ano passado, com a chegada de um novo reitor (o indiano Nitin Nohria), a HBS adotou uma nova metodologia de ensino em seu MBA. Os estudos de casos continuam sendo a base do programa, agora complementados pelo Field Immersion Experiences For Leadership Development (Field), o mergulho dos alunos no mundo real.
Entrevista pode ser feita no Brasil
Para ingressar no MBA, Harvard vai analisar o desempenho acadêmico do candidato, os resultados dos exames GMAT ou GRE e de provas de proficiência em inglês como TOEFL ou IELTS, além de sua experiência de trabalho. Também serão exigidas cartas de recomendação, pelo menos quatro ensaios, com cerca de 400 palavras, além da taxa de inscrição, de US$ 250. Depois de passar por essas etapas, o candidato é convidado para uma entrevista e é orientado a fazer, posteriormente, uma “reflexão pós-entrevista” por escrito. Não é pouca coisa, não.
Para quem pensa em se candidatar ao MBA de Harvard, vale lembrar que o estudante não precisa ir aos EUA para a entrevista. Essa etapa é feita em vários países, inclusive no Brasil. Além disso, uma vez por ano um membro da universidade faz uma apresentação no país. Há mais informações no site da escola (www.hbs.edu/mba). O curso sai a US$ 53,5 mil, sem contar os custos de seguro-saúde, acomodação e taxas de materiais, entre outros.