As três matérias são de autoria da repórter Bruna Camargo, que fez a cobertura do debate.
Leia a íntegra de todas abaixo:
Consulta pública do MMA é importante, mas prazo é curto, diz sócio do Levy & Salomão
A consulta pública sobre os sete planos setoriais da Estratégia Nacional de Mitigação (ENM) lançada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) na última segunda-feira, dia 28/07, é importante, mas o prazo de 20 dias para recebimento das contribuições é curto. A avaliação é de Luiz Felipe Calabró, sócio da área de Mercado de Capitais do Levy & Salomão, que acredita que a data-limite de 18 de agosto não é suficiente para essa discussão.
"Para dizer quanto cada empresa pode emitir de gases do efeito estufa, primeiro é preciso entender os sinais de mercado, dos setores e das empresas. E a consulta pública é um ótimo instrumento para isso, com o ferramental respaldado por normas, sendo a Lei de Liberdade Econômica uma das principais. O problema aqui é o prazo de 20 dias. Não dá para ter 20 dias para discutir um assunto como esse. Isso revela açodamento", afirmou Calabró, durante evento promovido pelo escritório Levy & Salomão Advogados, nesta manhã.
Para o especialista, deve haver alguma pressa por conta da iminência da 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que neste ano acontece no Brasil. "Não podemos bobear com o assunto, senão perdemos valor como soberania e como mercado, mas não dá para ter açodamento, velocidade demais, o que revela que há critério jurídico sendo desrespeitado. Urgência em um tema tão importante como esse revela que o bastidor está funcionando mais que a 'relação palco-plateia'. É importante que a discussão seja transparente e no tempo devido para que todos os aspectos técnicos sejam analisados com muita reflexão", avalia Calabró, destacando que é desse processo que vão sair as cotas brasileiras de emissão de gases de efeito estufa.
Segundo o governo federal, a consulta pública é a última etapa antes da versão final do Plano Clima, instrumento em elaboração desde 2023 que visa definir diretrizes e ações para o cumprimento das metas do Acordo de Paris até 2035. Os sete eixos da mitigação referidos na consulta incluem conservação da natureza, agropecuária, indústria, transportes, cidades, resíduos e energia.
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Avanços em descarbonização apoiam redução de juros junto a bancos, diz CFO da SMS Group
Os critérios de sustentabilidade e a jornada de descarbonização das empresas já representam um fator de peso para conversas de refinanciamento com bancos. No caso da multinacional do setor de metais SMS Group, os dados apresentados em relação à área resultaram em taxas mais baixas na negociação mais recente, segundo Fabíola Fernandez, diretora financeira (CFO, na sigla em inglês) da companhia alemã.
"A cada cinco anos a gente refinancia nosso acordo com bancos, e este ano é de refinanciamento para a SMS. Sou CFO há mais de 20 anos e é sempre a mesma pauta: balanço, ganhos e o banco quer saber se você pode repagar o crédito ou não. Mas este ano foi completamente diferente. Do roadshow que fizemos com bancos, em 10% falamos de balanços e ganhos, e 90% falamos de pegada de carbono, sustentabilidade, investimento em técnicas modernas e diversidade. A discussão com os bancos foi completamente diferente porque, dependendo desses critérios, eu pagaria juros mais altos ou mais baixos nos próximos cinco anos", disse Fernandez, durante evento promovido pelo escritório Levy & Salomão Advogados, nesta manhã.
Na avaliação da executiva, o fato de a empresa ter se adiantado na jornada de sustentabilidade e descarbonização não valeu apenas pela competitividade, para atender necessidades de clientes - muitas vezes europeus, com legislações específicas e mais rígidas. Também valeu para o financiamento, dado que a SMS conseguiu taxas de juros mais baixas do que havia conseguido na negociação de 2020. "É interessante como o tema está se desenvolvendo. É algo concreto", afirma.
Projetos em torno de sustentabilidade demoram pelo menos um ano para ficar prontos em empresas de maior porte, considerando desde a identificação de onde está a emissão dos gases de efeito estufa até a definição de métodos e instrumentos para lidar com isso, segundo Fernandez. Além disso, a legislação pode ter mudanças no meio do caminho. "Precisamos estar preparados", destaca a executiva.
Ela observa o maior desenvolvimento em torno de negócios sustentáveis na União Europeia, com discussões e aplicações do mercado de carbono datando de 2005, por exemplo. Por outro lado, Fernandez lembra que considerando o nível internacional de comércio, todos devem estar acompanhando os avanços no tema, e mesmo que seja desafiador para empresas calcularem suas emissões - e as de seus fornecedores -, trata-se de um trabalho "para ontem".
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Reputação é primeira diligência para investimento em carbono, diz sócio da YvY Capital
Uma empresa pode ser geradora de caixa e apresentar track record, mas se houver algum ruído ou fato que possa bater em sua reputação no tema ambiental, isso é um impeditivo para a concessão de crédito no mercado de capitais. A avaliação é de Bruno Laskowsky, sócio da Yvy Capital, que investe em projetos de infraestrutura ligados a carbono e tem ficado cada vez mais atenta ao assunto.
"Tipicamente, quando se faz uma operação de investimento de crédito, olhamos o capacity to pay, avaliando a capacidade de geração de caixa da empresa, e o willingness to pay, com o histórico do pagador. Hoje a gente inverteu. A primeira diligência é reputação", afirmou Laskowsky, durante evento promovido pelo escritório Levy & Salomão Advogados, nesta manhã. "No nosso comitê de investimentos, antes de mostrar números, olhamos a reputação: quem é o operador, quem é o land owner, quem é o developer".
O executivo destaca que os projetos de infraestrutura ligados a carbono são de longo prazo, olhando 30 a 40 anos adiante, e "muita coisa pode acontecer", diz. Há riscos de segurança fundiária, performance e intempéries, entre outros, mas o que "segura" ou mitiga parte desse risco é justamente a reputação, segundo Laskowsky. "Você minimamente acredita que, em uma situação de estresse, o tomador [do crédito] vai agir com conformidade e compliance adequado. Então, mudou a dinâmica, pois é um mundo também de risco reputacional. Virou um critério tão relevante quanto os outros critérios tradicionais de aprovação de investimento", afirma.
Saulo Puttini, sócio da área de Regulação e Assuntos Governamentais do Levy & Salomão, acrescenta que o processo de "know your client" deixou de ser questão de compliance para ser uma pauta de estratégia para as empresas.